quinta-feira, 25 de março de 2010

O Anjo, a Menina e a Flor...

Uma menina morreu. Veio o Anjo e levou-a nos braços a caminho do céu.
Passou com ela sobre a casa da meninice e depois sobre um jardim balsâmico, estrelado de flores.
Perguntou o Anjo à menina:
- Qual a flor que desejas cultivar no paraíso?
Havia nesse jardim uma roseira muito linda mas que tinha o pé partido. Estava cheia de botõezinhos.
- Infeliz roseira!... Vamos levá-la a ver se ainda pode florir-disse a menina.
O Anjo obedeceu e beijou a criança e ainda colheram muitas outras flores.
Continuaram viagem e passaram por uma cidade com muitas ruas. Uma mais estreita, estava cheia de cacos, vidros partidos, farrapos e muito lixo. Entre as muitas porcarias, o Anjo descobriu um vaso de flores com a terra espalhada no chão. Viam-se muitas raízes de uma flor campestre. Alguém a deitou para ali como coisa inútil.
Disse o Anjo:
- Levamo-la e pelo caminho conto-te a história desta flor.
Lá ao fundo desta rua morava uma criança miserável e doente. Nos dias mais quentes de verão, o sol aquecia-lhe a casa e ele imaginava-se passeando pelos campos. De flores, só conhecia o ramo de faia que um vizinho lhe dera. Com ele por cima da cabeça sonhava estar na floresta ouvindo os passarinhos. Um dia, o vizinho trouxe-lhe muitas flores e entre elas uma tinha raíz. Logo a plantou num vaso e a planta cresceu, cresceu e todos os anos dava flores. O seu jardim era esse que ele ia regando e amava.
O anjo e menina, passaram por mais alguns sítios e chegaram ao céu. Mal lá entraram, o anjo deu um beijo à menina.
Depois virando-se para ela disse:
- Faz hoje um ano que esse menino vive no Paraíso. A flor que encontrámos e que alguém deitou fora, foi a que trouxemos. - Como sabes tu isso?- perguntou a menina. -Sei-o, porque essa criança sou eu.Quando te fui buscar logo conheci a flor que tanta companhia me fez.
Então,entre os coros dos anjos Deus pegou na flor, levou-a ao Coração e, por milagre pôs-se
a cantar louvores ao Criador multiplicando-se até ao infinito.

Autor do conto: Guerra Junqueiro

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