quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Monge e a Prostituta

       Vivia um monge nas proximidades do templo de Shiva. Na casa em frente, morava uma prostituta. Observando a quantidade de homens que a visitavam, o monge resolveu chamá-la. 
       – Você é uma grande pecadora – repreendeu-a. – Desrespeita Deus todos os dias e todas as noites. Será que não consegue parar e reflectir sobre a vida depois da morte? 
       A pobre mulher ficou muito abalada com as palavras do monge; com sincero arrependimento, orou a Deus, implorando perdão. Pediu também que o todo-poderoso a fizesse encontrar uma nova maneira de ganhar o seu sustento. Mas não encontrou nenhum trabalho diferente. E, após uma semana a passar fome, voltou a prostituir-se. Mas cada vez que entregava o corpo a um estranho, rezava ao Senhor e pedia perdão. 
       O monge irritado porque o seu conselho não produzira nenhum efeito, pensou consigo mesmo: – a partir de agora vou contar quantos homens entram naquela casa, até ao dia da morte daquela pecadora. 
       Desde esse dia, ele não fazia outra coisa a não ser vigiar a rotina da prostituta: a cada homem que entrava, colocava uma pedra num monte.
       Passado algum tempo, o monge tornou a chamar a prostituta e disse-lhe: 
       – Vê este monte? Cada pedra destas representa um dos pecados mortais que você cometeu, mesmo depois das minhas advertências. Agora, torno a dizer: cuidado com as más acções!
       A mulher começou a tremer, percebendo como se avolumavam: ir os seus pecados. Ao voltar para casa, derramou lágrimas de sincero arrependimento, orando:
       – Ó Senhor, quando é que a Vossa misericórdia irá livrar-me desta miserável vida que levo?
       A sua prece foi ouvida. Naquele mesmo dia, o anjo da morte passou por sua casa e levou-a. Por vontade de Deus, o anjo atravessou a rua e também carregou o monge consigo.
       A alma da prostituta subiu imediatamente aos Céus, enquanto os demónios levaram o monge ao Inferno. Ao cruzarem-se no meio do caminho, o monge viu o que estava a acontecer, e clamou:
       – Senhor, esta é, a Tua justiça? Eu, que passei a minha vida em devoção e pobreza, agora sou levado ao Inferno, enquanto esta prostituta, que viveu em constante pecado, está a subir ao Céu!
       Ouvindo isto, um dos anjos respondeu:
       – São sempre justos os desígnios de Deus. Você achava que o amor de Deus se resumia a julgar o comportamento do próximo.
       Enquanto você enchia o seu coração com a impureza do pecado alheio, esta mulher orava fervorosamente dia e noite. A alma dela ficou tão leve depois de chorar, que podemos levá-la até ao Paraíso. A sua alma ficou tão carregada de pedras, que não conseguimos fazê-la subir ao alto.

Paulo Coelho, in Lux, 15 de Novembro de 2004

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