Há um encanto particular na preparação de grandes festas. A vinda de um Papa ao nosso país não foge à regra e é por isso compreensível que se multipliquem, por estes dias, notícias, comentários e explicações sobre tudo o que está a ser feito para acolher Bento XVI.
Como é natural, todos estes momentos são vividos à flor da pele, as forças são poucas para uma tarefa que parece tão grande, tudo é feito com a intenção de impressionar positivamente um visitante tão importante para quem faz da fé católica o seu modo de vida. Afinal, estamos na presença de um líder espiritual, que tem um papel especial na vida de milhões de pessoas, entre nós, por mais discordâncias que o seu estilo próprio possa gerar.
A forma como tudo está a ser preparado deixa adivinhar já um clima de festa, de celebração, à margem do confronto. Mesmo as habituais manobras publicitárias de quem procurar atenção à custa de uma figura maior – prática que vai alastrando, com a conivência de quem faz a informação que chega até cada um de nós – não passam de notas de rodapé numa história que se escreve para o hoje e também para o futuro. Um futuro em que o essencial resistirá à poeira dos que só sacodem os pés no chão, sem preocupação em olhar para o que nos ultrapassa, lá no alto.
Admite-se que neste clima de festa, até pela cultura mediática em que hoje vivemos, haja uma predominância do sentimento e do que é epidérmico, a respeito da viagem do Papa. Percebe-se, também, que se haja alturas em que se esquece o facto de estarmos na presença de um pensador - comparado pelo Patriarca de Lisboa a um corredor de fundo - que não se preocupa tanto com a velocidade do momentâneo, mas com o plano que definiu para chegar à meta.
A presença de Bento XVI, como festa e como desafio à reflexão, é uma interpelação para todos, crentes ou não, desde que se assuma um clima sério de discussão, de debate, abandonando estereótipos e preconceitos. Muito do que ele disse e escreveu está ainda por descobrir e descodificar: numa sociedade em mudança, como a nossa, vale a pena perceber o que tem a dizer a figura mais importante da Igreja Católica.
Por tudo isto, é fundamental que se prepare a vinda do Papa em festa, serena e alegre, com lugar para os que quiserem entrar. E quanto mais honesto for o encontro, mais sentido terá receber entre nós Bento XVI.
Octávio Carmo, Editorial da Agência Ecclesia.
Sem comentários:
Enviar um comentário